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FIDCs ganham fôlego como alternativa de crédito para pequenas empresas

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Instrumentos de crédito estruturado, os FIDCs começam a surfar uma nova fase no Brasil: além das operações clássicas de grandes corporações, crescem os fundos com tíquetes menores, carteiras pulverizadas e foco em nichos até agora pouco explorados, como agronegócio familiar, crédito educacional ou financiamento a startups e franquias de impacto.

“Estamos migrando de uma lógica de grandes investidores para um modelo mais amplo, que conecta crédito estruturado, tecnologia e sustentabilidade. O FIDC deixa de ser instrumento exclusivo e passa a integrar a carteira de quem antes era excluído desse ambiente”, afirma Bruno Lage, sócio‑fundador da gestora Catálise Estruturação e Gestão de Fundos.

Os dados oficiais sustentam a tendência. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) registra que o investimento de pessoas físicas em FIDCs mais que dobrou em 12 meses: passou de R$ 7,40 bilhões em outubro de 2023 para R$ 15,98 bilhões em outubro de 2024 (+115,9%). Ao mesmo tempo, entre janeiro e agosto de 2025 as emissões em FIDCs atingiram R$ 52,4 bilhões, um recorde para o período, com alta de 10,2% frente ao mesmo intervalo de 2024.

De olho nas mudanças

A mudança de perfil dos FIDCs acontece, em parte, por avanços regulatórios. Com a entrada em vigor da Resolução CVM 175 em outubro de 2023, esse tipo de fundo pôde ser acessado por investidores pessoa física, não apenas qualificados ou profissionais. De acordo com a Anbima, isso expandiu a base de investidores e permitiu que o produto se torne mais uma opção para diversificar o portfólio em um cenário de juros elevados.

Catalise Investimentos Foto: Guilherme Pupo

Na prática, os gestores aproveitam a nova janela para estruturar FIDCs destinados a nichos específicos: por exemplo, recebíveis de microfinanças no campo, crédito para franquias de impacto ou antecipação de faturas de fintechs de educação. A Catálise integra o movimento. “Criamos linhas com alto grau de pulverização e concentração mínima por cedente. Isso permite que o risco seja diluído e que empreendimentos menores também tenham acesso ao crédito estruturado”, explica Lage.

Ainda que não haja segmentação oficial por “micro‑FIDC” com dados públicos específicos, o recalibrar do mercado fica claro em relatórios da Anbima. A entidade aponta que os FIDCs representam a segunda maior captação líquida entre fundos no acumulado até setembro de 2025, com cerca de R$ 63 bilhões.

Se essa tendência se consolidar, os FIDCs podem se tornar não apenas ferramenta de diversificação para investidores, mas um motor de financiamento de nichos produtivos até então desatendidos, com impacto tanto econômico quanto social. “O FIDC deixa de ser instrumento de liquidez para grandes players e passa a financiar o ‘middle’ e até microestrutura de crédito com escala. Isso muda o ecossistema do crédito corporativo no Brasil”, conclui Lage.

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