Prezados investidores,
Nesta edição da Carta Catálise, abordamos um conceito essencial para o mercado financeiro e para a nossa gestão: o risco.
É comum associar risco à volatilidade, mas essa conexão pode ser enganosa. Em nossa gestão, buscamos isolar o verdadeiro risco das flutuações de mercado, analisando profundamente os fatores estruturais dos ativos em que investimos.
Volatilidade, em termos simples, é a medida da oscilação dos preços de um ativo ao longo do tempo. Um ativo com variações frequentes e intensas tende a ser mais volátil, mas isso não significa necessariamente que ele seja mais arriscado. A percepção de risco pelos agentes do mercado pode aumentar ou diminuir com eventos externos, mas isso nem sempre reflete a realidade dos fundamentos.
A história dos mercados está repleta de exemplos que ilustram essa diferença. Em 2002, a eleição do presidente Lula causou forte volatilidade nos ativos brasileiros devido à incerteza do mercado. No entanto, com o tempo, os fundamentos da economia mostraram que o risco real da política econômica não era tão elevado quanto a volatilidade sugeria.
A volatilidade pode, portanto, ser uma proxy do risco, mas não deve ser encarada como sua definição absoluta. Mais perigoso do que confundir os dois conceitos é ignorar os verdadeiros riscos estruturais envolvidos em um investimento.
A Falácia da Baixa Volatilidade e os Riscos Ocultos
Para ilustrar esse ponto, recorremos à metáfora de Nassim Taleb, que descreve a “falácia do peru de Natal”. Durante 364 dias, o peru é bem alimentado, vivendo em segurança. No entanto, no dia 365, sua realidade muda drasticamente – e fatalmente. A ausência de volatilidade ao longo do ano mascarou o risco real que ele corria desde o início.
O mesmo ocorre com investimentos que parecem estáveis, mas escondem riscos estruturais profundos. Um exemplo prático foi a crise financeira global de 2008, quando bancos com balanços aparentemente sólidos ruíram devido à fragilidade de suas carteiras de crédito.
Volatilidade e Risco nos FIDCs
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) são um excelente exemplo de como a baixa volatilidade pode mascarar riscos significativos.
Por natureza, os FIDCs não apresentam volatilidade de mercado, pois suas cotas geralmente não são negociadas em bolsa, e a precificação dos ativos é feita com base nos fluxos de caixa esperados. No entanto, isso não significa que esses fundos sejam livres de riscos. Muito pelo contrário.
A solidez de um FIDC depende fundamentalmente da qualidade da sua carteira de crédito, da estrutura de garantias, da originação e monitoramento dos ativos, bem como da gestão dos riscos envolvidos. Um fundo pode apresentar estabilidade na precificação, mas estar exposto a ativos de baixa qualidade, concentração excessiva, inadimplência crescente ou até fraudes, fatores que só se revelam quando problemas começam a surgir.
Os eventos de estresse nesses fundos costumam ser abruptos – um credor relevante pode falir, um grupo econômico pode ter dificuldades inesperadas ou uma mudança regulatória pode impactar toda a carteira. Como os preços das cotas não oscilam diariamente, o risco pode permanecer invisível até o momento de uma grande realização de perdas.
Na Catálise Investimentos, nosso compromisso é garantir que a ausência de volatilidade não seja confundida com ausência de risco. Seguimos um processo rigoroso de análise, sempre atentos aos aspectos estruturais dos ativos, buscando evitar surpresas negativas e proteger o capital dos nossos investidores.
Conclusão
Risco e volatilidade são conceitos diferentes. Um ativo pode ter alta volatilidade e ser seguro, assim como um ativo com estabilidade aparente pode esconder perigos profundos.
Nosso trabalho como gestores vai além das percepções do mercado. Buscamos avaliar os riscos reais em cada investimento, identificando oportunidades onde poucos enxergam valor e evitando armadilhas disfarçadas de grandes promessas. Essa disciplina na análise e gestão de riscos nos permite tomar decisões mais fundamentadas, protegendo o patrimônio dos investidores e garantindo que nossos fundos permaneçam sólidos e bem estruturados.
Grande abraço,